Esses dias estava assistindo a uma entrevista com a atriz Denise Fraga na qual ela falava sobre uma das reflexões que ela pretende deixar para os espectadores em sua peça mais recente. A reflexão vem de uma simples pergunta: por que você trabalha? A intenção é fazer as pessoas refletirem, também, sobre o fato de hoje a questão financeira estar se sobrepondo a questões diversas que deveriam ser mais importantes, mas aparentemente já não conseguimos mais viver assim. Pensar em um trabalho que talvez não te traga tantas alegrias ou em um trabalho que não tenha a ver com sua área de formação, é luxo ou necessidade? Existe uma fórmula que funciona a longo prazo?
São tantas as questões que surgem dessa primeira pergunta que uma crônica só não seria capaz de abordar todas elas, talvez nem um livro inteiro desse conta. E eu com certeza não sou a pessoa mais indicada para tentar fazer isso, mas não posso negar, me peguei pensando nessa pergunta. Por que trabalho? Bom, pra responder sem ser clichê ou superficial, tive que passar um tempo pensando no meu trabalho.
Meu trabalho me permite experiências boas e ruins, me permite o contato com outras pessoas, me ensina a ouvir, me permite errar — o que é um alívio — me permite conhecer histórias que eu jamais conheceria se passasse o dia todo atrás do computador. Meu trabalho me faz lidar com pessoas, o que pode ser difícil, mas me torna mais humana. No meu trabalho, posso me permitir as vezes ser mais sensível do que racional. No meu trabalho estou sempre mostrando que no mundo não existe só o certo e o errado, existem diversas interpretações de um mesmo fato. Meu trabalho é democrático, você pode entender ou não, gostar ou não, sua opinião conta muito, você pode e deve ter voz ativa. Meu trabalho é dinâmico, posso dizer com toda certeza que um dia nunca vai ser igual ao outro. Além disso, estar preparado faz parte, mas jogar o roteiro pro alto e mudar tudo de forma inesperada também é bem-vindo.
Bom, teria várias outras coisas que eu poderia dizer sobre meu trabalho, mas vou tentar começar a responder a tal pergunta que gerou isso tudo. Vai parecer pretensioso, mas juro que não é assim que quero soar: eu trabalho porque acredito que a arte é transformadora. Acredito que, fazendo com que as pessoas tenham contato com a arte, elas podem se tornar pessoas questionadoras e, aos poucos, vão transformando seus mundos particulares e isso é extremamente importante.
Não posso mudar o mundo, isso sim seria muito pretensioso, mas posso mudar pequenos mundos. E sabe o que é melhor? Quando percebo que mudei o mundo de alguém, por menor que seja essa mudança, automaticamente estou mudando o meu também.
Resumindo, trabalho porque quero ser uma pessoa melhor em um mundo melhor. Ixi, agora deixou de ser pretensioso para ser idealista. Bom, fazer o que, acho que sou um pouco assim.
Clara Braga
Linda crônica, parabéns Clara.
ResponderExcluirParabéns,lendo esta crônica me faz refletir sobre o meu trabalho, em que trabalho com pessoas. Lindo texto.
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