Não se Diz ao Triste que se Alegre
Não quero e não quero
jubão amarelo.
Se de negro for
também me parece
quanto me aborrece
toda a alegre cor:
cor que mostra dor,
quero e não quero
jubão amarelo.
Parece-vos que se pode dizer mais ? Não me respondais: «Quem
gabará a noiva?» Porque assentai que foi comendo e fazendo, ou assoprando, que
não é tão pequena habilidade. E, porque vos não pareça que foi mais acertar que
querê-lo fazer, vedes, vai outra do mesmo jaez, contanto que se não vá a
pasmar:
Perdigão perdeu a pena,
não há mal que lhe não venha.
Em um mal outro começa,
que nunca vem só nenhum;
e o triste que tem um
a sofrer outro se ofereça;
e só pelo ver, conheça
que basta um só que tenha
para que outro lhe venha.
Luís Vaz de Camões, in "Cartas"
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